terça-feira, 15 de outubro de 2019

Sem bater à porta



Hoje a dor tomou conta de mim de forma inesperada. Não bateu à porta, não pediu licença, nem explicou ao certo por que veio. Ela simplesmente chegou. A depressão é assim. A gente luta e, quando pensa que está por cima, ela vem e te derruba de novo. A sensação é de paralisia. Você cumpre os seus compromissos, quando consegue, mas com muita dor. Sair do trabalho para ir a uma simples consulta médica é um enorme desafio.

Eu disse para um amigo que estava triste, mas não houve sequer um comentário. “Pulou o assunto”. Mais uma vez: quem quer estar perto da dor? A dor incomoda, principalmente quando a pessoa não sabe como ajudar. Às vezes um abraço, deitar junto, acompanhar até algum local agradável é suficiente para quem está sofrendo.

Hoje a dor tomou conta de mim, e não tive ninguém para tomar conta dela a não ser eu mesma...

terça-feira, 6 de agosto de 2019

Encontro das Almas

Uma vez ouvi que o amor nasce não no encontro das afinidades, mas sim das carências emocionais. E, ao longo da minha vida, vi que isso não poderia ser mais verdadeiro. As almas se tocam nas suas feridas e dores. Nos sonhos frustrados. Nos sentimentos escondidos. 



Isso não se trata de almas gêmeas, mas de pessoas que passam na sua vida e deixam marcas. Elas não passam despercebidas. Não se trata de mais um amigo. É alguém especial na sua vida que enxerga coisas que ninguém mais vê e vice-versa.

No encontro das almas, as lentes que abrem a porta para o mundo são as mesmas. É um sistema cósmico que transforma duas vidas, dois estranhos em companheiros, amigos, ou até amantes.

Pode ser que uma das partes fuja desse encontro porque nem sempre as almas fazem parte do mesmo universo. Às vezes o medo, as adversidades os impedem de permanecer nesse encontro que parece abalar a terra como um terremoto. As personalidades e histórias de vida podem ser diferentes.

Um pode ser fogo consumidor e outro brisa suave. Um pode ser terra e o outro ar. Não importa. O encontro das almas aconteceu. Pode ser assustador para alguns, sofrido pela impossibilidade da concretização desta simbiose que atrai como um ímã irresistível. Mas, para quem sabe o que significa esse encontro mágico, toda a dor vale pena porque muitos percorrem a vida sem enxergar através das almas e sem ter esse encontro esplendoroso.

Então veja através da capa! Encontre as almas. 

quinta-feira, 28 de março de 2019

O Mar

Estou me afogando. A imensidão do mar me traz a percepção da minha pequenez diante daquilo que parece infinito. Não há ninguém para segurar a minha mão. Então nado contra a força das ondas que me cobrem sem piedade. A vida pode ser impiedosa às vezes.


Nado em direção à praia na certeza de que meus pés alcançarão a terra firme. Com dificuldade, venço a força das ondas. E chego. Minhas mãos tocam a areia e vem a sensação de que o pior já passou. O meu corpo começa a expelir a água que me sufocava. Vem o alívio.

Sento-me na areia e observo mais uma vez a imensidão do mar. E como ele é convidativo. Sedutor, como o canto de uma sereia mortal.

Estou em terra firme. Já estou segura. Mas a água ainda me chama. E o desejo de voltar a me encontrar e me aventurar novamente nas ondas que não possuem cordas nas quais possamos nos segurar. Somos engolidos pelo mar. Pela sua infinitude. E pelo desejo tentador de descobrir o que há além do horizonte.

E, assim, cedo à tentação. Caminho em direção ao perigo de mais uma vez me afogar. Na tentativa de viver e não simplesmente sobreviver na mesmice de quem já perdeu a coragem e a curiosidade das crianças.