Estou me afogando. A imensidão do
mar me traz a percepção da minha pequenez diante daquilo que parece infinito. Não
há ninguém para segurar a minha mão. Então nado contra a força das ondas que me
cobrem sem piedade. A vida pode ser impiedosa às vezes.
Nado em direção à praia na
certeza de que meus pés alcançarão a terra firme. Com dificuldade, venço a força
das ondas. E chego. Minhas mãos tocam a areia e vem a sensação de que o pior já
passou. O meu corpo começa a expelir a água que me sufocava. Vem o alívio.
Sento-me na areia e observo mais
uma vez a imensidão do mar. E como ele é convidativo. Sedutor, como o canto de
uma sereia mortal.
Estou em terra firme. Já estou
segura. Mas a água ainda me chama. E o desejo de voltar a me encontrar e me
aventurar novamente nas ondas que não possuem cordas nas quais possamos nos
segurar. Somos engolidos pelo mar. Pela sua infinitude. E pelo desejo tentador
de descobrir o que há além do horizonte.
E, assim, cedo à tentação. Caminho em direção ao perigo de mais uma vez me afogar. Na tentativa de viver e
não simplesmente sobreviver na mesmice de quem já perdeu a coragem e a
curiosidade das crianças.
