Nos tempos atuais, ser pai e mãe não é para qualquer um. O homem é um ser social, ele precisa da comunidade para suprir suas necessidades físicas e emocionais. Mas o que me parece é que, nas grandes cidades, cada vez mais a socialização precisa ser comprada: creches, escolas, colônia de férias, babás para tomar conta dos filhos enquanto eles brincam com outras crianças no parquinho.
Bom, quem pode culpar os pais? Trabalha-se muito, o tempo é curto, falta tempo para si, dinheiro e tempo para ter mais de um filho, os parentes moram longe e a família se resume ao seu núcleo familiar. Os avós não se aposentam tão cedo, precisam ou querem continuar trabalhando e já não participam mais tão ativamente da criação dos netos.
É uma multidão em meio a um isolamento silencioso, o
isolamento emocional, que tem levado à tão temida doença do século, a depressão.
Segundo estimativas, a depressão pode estar atingindo até 20% da população
mundial. E as nossas crianças não estão de fora. Nas últimas semanas, nas redes
sociais, há uma forte campanha alertando sobre o jogo infanto-juvenil de
tendências suicidas, Baleia Azul. O jogo ocorre em grupos fechados via WhatsApp
ou Facebook.
Mas a pergunta que que não quer calar é se a culpa é do jogo
ou da nossa sociedade. E não estou falando da falta de atenção da família
ao comportamento dos filhos, da ignorância sobre a doença depressão ou da falta
de assistência da saúde pública. Mas do porquê de estarmos construindo uma
sociedade de deprimidos.
Na Netflix, a série sobre o suicídio de uma adolescente, “13
reasons Why”, está batendo recorde de audiência. As pessoas estão realmente
preocupadas e interessadas no assunto, porém parecem que ainda estão muito longe
de compreender as causas e raízes da depressão ou do suicídio.
Em todos os grupos brasileiros de debate sobre depressão e
ansiedade no Facebook dos quais participei, falar sobre a série "13 reasons Why" ou o
jogo Baleia Azul é proibido, podendo o usuário ser banido do grupo. Afinal,
para pessoas deprimidas assistir à série geralmente coloca ainda mais “para
baixo”, muitos se identificam com a personagem, afirmam que choram muito, ficam
arrasados e, acredito eu, até estimulados pela ideia suicida. Confesso que preferi
seguir o conselho dos moderadores de grupo e achei melhor não assistir já que também sofro da doença.
Claro que sou adulta, sou mãe, assim que descobri que estava com depressão iniciei o tratamento, mas nossos adolescentes estão mais vulneráveis. A adolescência é e sempre foi uma fase difícil e, quando tudo parece perdido, a família não te entende, não há o medo de morrer, o que se vê é apenas o medo de viver e continuar com todo esse sofrimento.

A maior parte das pessoas não entende que depressão não é tristeza, não se mede por quem sofreu mais ou menos, não é falta de Deus nem frescura, mas um estado de saúde psíquico comprometido. Se fosse câncer ou pneumonia, todos entenderiam, mas um adolescente se cortando é visto por muita gente ainda como uma forma de chamar a atenção dos pais ou de castigá-los por não fazerem suas vontades etc.
Muitas são as desculpas para os pais se negarem a ver o
óbvio: está mais difícil, sim, criar filhos saudáveis e felizes. E se você não está
disposto a se jogar de cabeça nessa empreitada, pôr os seus filhos em primeiro
lugar e entender que colocá-los nas melhores escolas e faculdades não é necessariamente
o mais importante, mesmo nesse mundo louco, altamente competitivo, em que se
precisa ter um supercurrículo para se ter a chance de um salário mediano... Conselho:
não tenha filhos. Por mais que a sociedade te cobre, esta não é uma missão obrigatória.
Mesmo que eu e muitos venham te dizer que é a melhor experiência da vida e o
maior amor que você vai ser capaz de sentir, sabemos que não é assim para todo
mundo.
Pode parecer radicalismo, mas me defendo dizendo que é
conselho de mãe. Não estou desencorajando a paternidade, mas chamando à
responsabilidade. Mesmo pequena, vejo minha filha sofrer com a solidão de ser
filha única, de não ter primos no quintal para brincar, como era antigamente,
com todo mundo perto, tios, avós e agregados. E faço todo o esforço para contornar essa
situação, levando-a pessoalmente para brincar com os amigos à noite, quando algumas vezes eu gostaria apenas de
descansar, ou ficar morrendo de saudade dela porque foi brincar na casa de algum
parente com as primas quando eu queria estar com ela no final de semana.
Sei que, quando ela se tornar uma adolescente, terei que estar ainda mais atenta às companhias, ao que assiste na TV, restringir o acesso à Internet, invadir, sim, por vezes sua privacidade. Mas principalmente dialogar, entender seus anseios, suas necessidades, seus medos, o que tem acontecido na vida dela. Esperando pelo melhor, que ela possa me ter como amiga especial, aquela para quem não se conta tudo, afinal mãe tem que ser mãe e não pode concordar sempre e achar tudo legal. Mas aquela amiga com que a gente conta quando mais precisa, para quem falamos as coisas realmente importantes, para quem a gente pede socorro quando está em apuros.
E eu espero ficar por aqui um bom tempo, minha filha, para
apoiá-la no seu crescimento e desenvolvimento. É claro que também vivo para
mim, não abro mão de tudo por você, mas de tudo que for necessário (e mais um
pouco, não vou mentir) para vê-la crescer feliz. Espero não te decepcionar e,
enquanto eu viver, que você não venha fazer a terrível pergunta: “Onde estão
meus pais?”. E, quando eu morrer, que você saiba exatamente onde me encontrar:
no seu coração.


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