segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Banho de Chuva

Nos olhos há sequidão. Mas, no céu, uma pequena nuvem traz a esperança de uma chuva acalentadora. 

Ah, como eu gosto de chuva. Deixar-se encharcar pela chuva forte de verão. A chuva lava a alma e leva embora, por alguns segundos, toda preocupação.



Começaram a cair alguns pingos d’água. Minha alma se ouriça toda como uma criança à espera de um brinquedo prometido.

O céu é cinza e feio. Mas feio para quem? Não para mim que espero ansiosa pela chuva que lava e expurga os meus pecados. Sim, meus pecados são muitos.

Mais uma vez eu espero. Olho para fora da janela e vejo a grama já molhada e a vista das árvores ao longe um pouco turva. É a chuva fina que cai.

Meus pensamentos vagueiam e penso como é bela a chuva que se forma lá no céu, não no céu das estrelas, mas no céu pertinho de nós. É como uma bênção. Não penso em ciência. Só nas nuvens carregadas, na magia da água que se precipita a partir das nuvens. Nuvens de algodão.

Aprendi na escola, mas até hoje não entendo de que são feitas as nuvens. Já passei por cima, por dentro e por baixo delas de avião e até hoje não sei o que são. É pura mágica.

Finalmente a chuva caiu forte. Então eu saí e me lavei. E respirei fundo o cheiro da terra molhada. E deixei todos os meus pensamentos ali.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Timoneiro

Minha visão está embaçada. Meus olhos mareados. O mar vem e vai com as suas ondas e a maré sobe e desce conforme a sua jornada. Não conheço ainda a minha. Não sei para onde vou. Só sei que sigo em frente, na direção em que não conheço o fim, numa estrada por vezes cheia de luz, por vezes, sombria.



Estou cansada de levar o barco. Queria alguém para pegar na minha mão, segurar e me levar um pouco navegando nesse mar. Um timoneiro experiente. Mas não há. Sigo nesse mar infinito, onde não vejo o horizonte, mas a esperança me dá a certeza da chegada e de um caminho cheio de surpresas, suspense, tristezas e alegrias. Imagino uma praia deserta, de natureza farta, uma comunidade amistosa, amigos.

Sinto um peso nas costas. Mas aí me lembro que se soltar o leme, o barco vai desgovernar, as ondas vão cobri-lo e ele vai afundar. Então permaneço.

Meus olhos estão mareados. Quase não enxergo. Forço a vista na tentativa de encontrar o mapa e a bússola. Mas não sei se estou no caminho certo.

O barco está navegando. As ondas vêm e vão. Silêncio. Imensidão. Solidão.

O barco está seguindo com as suas velas a soprar. O vento está em meu favor. Agora o ruído de ventania corta o silêncio da solidão e não sinto medo do zunir do vento. Ele está em meu favor.

Sim, estou cansada. Ao longe vejo uma ilha, um refúgio. Vou até lá descansar antes de continuar. Não vou demorar.

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Animal Domesticado

Come. Dorme. Deita. Rola. Um animal domesticado. Tudo faz por um biscoito ou um afago. Não importa se está certo ou errado, ele é disciplinado.

Não é muito diferente do que eu tento ser agora. Devo esconder o furacão que há em mim, o espírito selvagem, e ser sempre dócil, receptiva, assertiva e resiliente.

Preciso me adaptar às mudanças, a lidar com as pressões tranquilamente, ser treinada, enfim, domesticada. 

Sou atacada, mas não posso atacar. Sorrio, tento ser simpática, respiro fundo, lembro-me dos meus exercícios de meditação. Autocontrole é a chave. Mas que merda de autocontrole é essa? Parece-me utopia de livro de autoajuda. 

Tudo isso parece mais uma prisão. Mas não importa. Estou presa em um labirinto e ninguém se importa. Tenho que sair dele antes que a loucura tome conta de mim.


sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Amor demais

Amor demais sufoca. É como a criança pequena, que de tanto amar, aperta um pintinho até matá-lo, sem querer... Ou como aquele desenho animado da menina Felícia que quer apertar os bichinhos fofinhos até que lhes saltem os olhos. 


Pois é, parece que tem até um estudo da Universidade Yale, nos EUA, publicado na revista Psycological Science, explicando que é normal sentirmos uma euforia positiva quando vemos um filhote de gato ou cachorro. Mas, logo depois, outro impulso, o de morder e apertar até a morte, costuma aparecer como uma forma de neutralizar o primeiro sentimento positivo que está fora de controle. É, sim, muito louco. (risos).

Já esteve com alguém assim, que parece amar demais, que quer controlar a sua vida e cada passo que você dá? Que sente ciúmes a ponto de achar que você é desejado ou desejada por todos e que precisa “proteger” você, a presa indefesa, desses predadores maus?

Tem um grupo de autoajuda: Mulheres que Amam Demais Anônimas (MADA). Já ouviu falar? A instituição se define como “uma irmandade de mulheres que compartilham suas experiências, forças e esperanças, para resolver problemas em comum e ajudar outras mulheres a se recuperarem de sua dependência de pessoas.” Isso é muito sério. Essas mulheres sofrem abusos físicos e psicológicos e não conseguem abandonar os seus parceiros!

O ciúme é destrutivo no relacionamento e nada justifica a violência, seja ela física ou psicológica. A Bíblia Cristã diz que o ciúme é como uma sepultura: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, com veementes labaredas”. Cânticos 8:6

Em outro versículo, a Bíblia defende: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece” 1 Coríntios 13: 4

Vamos amar muito sim, mas com liberdade e dando asas para quem se ama voar e voltar quando bem quiser. Esse é o verdadeiro amor. Libertem as borboletas!

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Minha Felicidade


Dias atrás, li uma frase da Clarice Lispector que me marcou: “o que a gente não entende se resolve com amor”. Não sei se Clarice já estava deprimida quando escreveu isso, mas para mim foi um soco no estômago e, ao mesmo tempo, libertador. Clarice teve um filho esquizofrênico. Como entender a doença, "de quem é a culpa, será que é minha? Como aceitar?". “O que a gente não entende se resolve com amor”.

Se choro pelo que não entendo? Sim, aos prantos. Mas depois de todo choro, acordo melhor e penso: por que eu vou ficar me punindo tanto? Melhor olhar para dentro de mim porque nem sempre olhar para o lado de fora nos faz encontrar uma lógica ou mesmo compreensão.

Sim, eu decidi: o que eu não entendo resolvo com amor. Mais amor por mim. Aceitando o que não tem explicação, o que eu não sei, o que às vezes parece ser uma punição divina, mas... o que eu não entendo vou resolver com amor. Melhor assim.